Eu sou Gin, Guardião Substituto da Rainha. Passei os últimos 19 anos, humanos, a servindo com devoção e cuidado, até o dia em que a Herdeira do Trono de Ilhad enfim despertou. O sono de seu poder, me resultou nos melhores anos que já tive ao lado de Anne Bell. Quando soube por minha Rainha que sua filha havia acordado temi perdê-la para sempre. Ela não poderia saber que me sentia assim, então engoli meu conflito interno e fui encontrar a minha protegida, legítima.
Eu a observei durante meses. Vendo cada passo e cuidando dos detalhes da alquimia pela qual passaria em breve. Eu tive uma certa repulsa por essa garota desde o primeiro segundo, mas eu me convenci de que gostava dela, me forcei a aceitá-la. Ela era filha da mulher que eu amava e protegia com minha vida, era meu dever. Só. Então, como não havia escolha fui levando como dava. Algo me incomodava... Ela era indecisa, boba e desleixada, impulsiva demais. Porém, era linda, tinha força de vontade e vigor. Isso a tornava aceitável para mim. Me prendi a isso.
Um dia, eu ouvi uma de suas conversas.
-O que você vai fazer, Norah? Sabe... Ano que vem. A escola acabou... - uma de suas amigas perguntou, durante um dia de aula, num intervalo. ( Sim, eu estive em sua escola. Não, eu não sou um espião).
-Morrer... - ela disse num suspiro. Sua amiga não ouviu. - Talvez me mudar. Ir para um lugar longe... Uma ilha. Viver com o que eu encontrar lá... Somente eu e... E... - ela hesitou. - E aquele rapaz. O do meu sonho.
O rapaz do sonho. Eu nunca soube de quem se tratava.
E por alguma razão me lembrei disso, no momento em que Margot atravessou meu peito com seu braço venenoso. Minha visão ficou turva naquele momento, e eu me lembrei a quem minha lealdade pertencia. A Norah. Se eu morresse ali, ela morreria onde quer que estivesse. Seria justo?
Não.

-MARGOT!!- berrei enquanto afastava sua mão de mim. Olhei para baixo e vi Anne Bell caindo. Sangue saía de seus olhos. Me desesperei.
-O que? Matarei duas Sereias de uma vez? Estou certa? - seus olhos inquisitivos me acompanharam - Você não pertencia a Anne, pertencia? Não... - ela riu - Você pertence aquela pentelha. Aquele saco de fraldas...
-Cuidado como fala. - avisei, tentando me recompor da dor. Como eu não havia morrido? O poder de um Guardião é refletido na força da Sereia Mestra, mas Norah ainda é muito nova e fraca. Ambos devíamos estar mortos agora!
-No que está pensando agora, Substituto? Preste atenção em mim, ou morrerá.
Margot disse isso num tom divertido e me cercou com sua cauda, dando estocadas com os braços. Ela era rápida, mas com toda a certeza, eu era mais. Embora Margot tenha ficado mais forte, eu ainda a considerava uma oponente inferior. Nos nossos combates anteriores, ela era como uma criança para mim. Naquele momento, eu a compararia a uma adolescente achando que sabe o que faz. Não é páreo para mim.
-Nunca entenderá, Margot? Eu estou ferido e sangrando, mas mesmo assim te vencerei facilmente. - eu a encurralei perto de uma rocha - você sabe que nunca será mais forte que um Guardião.
- Isso é o que você pensa, Gin. E como vai o Hector? - ela riu, soberana.
Liguei os fatos.
-Você não seria capaz. Para se roubar os dons de um Guardião, é necessária muita força. Hector não faz o tipo que se deixaria derrotar por você.
-Suborno.
Ela riu alto e avançou novamente. Fui arremessado e bati as costas contra o chão. A água começou a se agitar ao meu comando, a prendendo numa bolha. Me perguntei se aquilo a prenderia. Embora fosse uma bolha espessa, não era mais do que a barreira de Anne Bell, e mesmo assim, ela a atravessou.
-Oh, não, Gin! Estou presa. - ela ironizou. Como eu odiava aquela mulher! Aquela voz me irritava.
Me mantive calado. Conversar durante uma batalha não era algo realmente admirável. Estava acabado.
A prendi cada vez mais dentro daquela bolha, fechando-a cada vez mais, assumindo sempre a consciência de que a qualquer momento ela poderia sair dali e me atacar. Algo estava estranho... Ela não se movia. Sua expressão passou de divertida para séria. Ela tramava algo, eu tinha certeza.
Me esforcei e senti que naquela hora, eu a tinha sob minha custódia. Usei a maior parte do meu poder tentei esmagá-la. Algo deu errado. Eu estava preso dentro de uma barreira, e sendo arremessado para longe.
-Droga, Anne Bell! Droga! - Ouvi Margot praguejar.
Fiquei atordoado.
-NÃO TOQUE NO MEU GUARDIÃO. - Anne Bell urrou se lançando contra Margot, acertando em cheio seu peito e a empurrando para baixo. Houve protesto. Assim que acertaram o chão, as caudas começaram a se empurrar, no que parecia uma dança bem cronometrada. Anne Bell estava ferida, mas isso não a impediu. Seu olho agora parecia cicatrizado, provavelmente ela se cortou e o seu veneno a curou, mas seu olho esquerdo ainda estava fechado. As duas gritavam e se ofendiam. Coisa de irmã, pensei assistindo a tudo.
-Gin! Quero que saia daqui. Quero que vá ao encontro de Norah. Ela está ferida no mar. Ache-a! Ou morrerá. - Anne Bell se esquivou para perto de mim e gritou seu recado. Entendi. Era meu dever obedecê-la. Assim o fiz.


Ps: Realmente não sou boa com ação =/