Chovia muito, fim de tarde, céu cinzento... Parecia se arrastar, a hora de ir para casa parecia tão longe e se fazia tão perto, mas não queria chegar. Sentei por um momento e pensamento foi longe. Talvez tenha pensado no café que queria tomar, expresso com caramelo, pensei "nele" e em como me fazia sorrir, mesmo sem saber disto. Lembrei de um filme, falava sobre uma cidade fantasma, vazia. Humanos viram fantasmas, quando se descobrem vazios?
Levantei, a hora de ir para casa chegou. 18:50. Me despedi de alguns, lancei sorrisos tortos a outros. Peguei minha bolsa e o guarda-chuva e esperei no ponto de ônibus, que demorou, mas chegou vazio. Sempre esteve vazio. Parei em frente meu apartamento, procurando as chaves, subi as escadas logo em seguida e entrei no lugar que eu sabia que era meu. O único lugar que sabia que não era necessário fingir,  ou fugir de algo. Sentei no meu sofá, preto e confortável, encostei a cabeça no lugar de por braços e cochilei. Sonhei com ele. Sempre cheguei mais cedo, estava acostumada, mas sempre sentia a falta de ter tardes inteiras atoa com aquela companhia. Eu sempre senti. Acordei algum tempo depois, olhei pela janela e já era noite, arrumei meu cabelo com os dedos e pensei que ele chegaria logo, logo. Fui a cozinha e preparei um café e fui em direção da sala novamente, pousando minha caneca na mesa, onde haviam duas manchas de chicaras. Peguei um livro, um dos muitos que ali haviam, em cada lugar da casa haviam livros, prateleiras cheias e espalhados por todos os comodos. Chegavam a fazer parte da decoração, como os os discos de vinil pendurados na parede, a guitarra no canto da sala, o violão do lado... Milhares de CD's que ele colecionava... Paredes azul claras que abrigavam nossas fotos. Costumávamos nos sentar no sofá e não dizer nada, olhávamos as fotos e ingressavamos na nostalgia, mas era bom. Sempre foi.
Ouvi o barulho da porta e o vi entrar. Sorri e o abracei. Sentamos e comecei a pensar em como aquela monótona vida sem sentido não era boa, mas por ele valeria a pena. Sempre.