Eu sempre achei que fosse substituível. Sempre me julguei nula demais, e talvez por isso meu último receio era de ter partido. A escola ficaria bem sem mim, meu grupo de amizade, logo encontraria alguém que ficasse no meu lugar. Em casa... Eles sobreviveriam. Não havia nada que me deixasse tremendamente assutada por deixar pra trás, nenhum sonho, objetivo ou vontade. O mundo sempre me foi tedioso. A única coisa que me fazia delirar, era o mar... As ondas... Nada mais justo que morrer nelas, pensei. Ou melhor, nada mais justo do que nascer delas.
-Acordou! Veja, veja ! Acordou ! - Ouvi a mesma voz de antes. Infantil e energética.
-Kayra! Já te disse. Não se aproxime. Qualquer... - a voz de adulto começou um sermão, mas foi interrompido quando comecei a vomitar desenfreadamente.
 Sangue saia da minha boca de uma forma terrível  Sentia que meu estomago atrofiava e minha garganta se fechava, embora não parasse de sangrar. Doeu muito.
- Gin! O que está acontecendo ?! - A voz infantil perguntou, meio exasperada.
-A alquimia... Ela não vai sobreviver... - ele disse, mais para ele do que para Karya- Mas... Ela tinha tudo para ser a Favorecida. Não entendo!
 Eu não iria sobreviver, segundo ele. Me senti desesperada, e eu sabia o que acontecia quando e exaltação me atingia. A pressão ao meu redor começou a se formar, e eu tive medo disso ferir a criança e o homem que estavam comigo, mas não podia evitar. Fui encasulada pela bolha novamente, e então o vômito cessou. Em momento algum fui capaz de abrir os olhos. Eles estavam pesados e era como se alguém tivesse me vendado, me sentia impotente daquela forma. Só tinha o controle da perna direita, o que me deixava louca. O pavor me tomava e a pressão aumentava ao meu redor, senti medo de que eu acabasse me explodindo.
-Hey! Calma aí, moça! - Ouvi a voz do rapaz. - Vamos com calma ! Sua alquimia não está pronta e a não ser que queira morrer, não crie barreiras tão espessas como essa ! É uma quantidade enorme de energia sendo gasta por alguém que acabou de passar dois meses dormindo.
"Dois meses ?!"  pensei.
-Calma, calma! - Ouvi novamente sua voz calma me chamando - Norah não é? Esse é seu nome? Vamos... Tente falar. Sei que é doloroso e demorado, mas se você não lutar vai acabar morrendo muito facilmente. Veja, tente se focar na minha voz. Lembra de algo da sua vida antiga? Mãe, pai, amigos? Se sim, pense neles, mas você precisa manter a calma. Caso contrário, isso tudo vai pelos ares, e não queremos que isso ocorra, queremos?
Tentei seguir seu conselho. Lembrei-me de Margareth. Tão linda, indefesa e risonha. Senti saudades de casa, talvez pelo meu conforto ou pelo fato de que lá eu estaria segura. Comecei, então, a me imaginar em minha cama, deitada assistindo a algo na televisão, distraída. Talvez um romance, ou comédia... Com esses pensamentos, acabei por me acalmar de vez. A pressão sutilmente foi se abaixando ao meu redor e eu me sentia mais segura, eu estava bem. Gentilmente, o rapaz que estava ao lado me ajudou a deitar direito. Não conseguia enxergar claramente. Meu corpo não respondia aos meus comandos.
-Pronto... Abra os olhos devagar. Vou te ajudar. - O rapaz tocou meu rosto e me fez abrir lentamente os olhos. Minha vista ardeu. Era tudo muito claro, levei algum tempo para me adaptar ao ambiente.
Aos poucos pude enxergar a minha volta. Estávamos num ambiante muito similar a uma enfermaria. Tudo branco, e de certa forma, assustador.
-O... - tentei falar, mas minha garganta estava seca.
-Beba - O rapaz ofereceu-me um liquido. Ele era um belo rapaz. Meio moreno. Cabelos que tocavam o queixo, meio bagunçado atrás. Mas era um bagunçado agradável. Parecia exausto. Ele sorriu. Um sorriso muito aberto e convidativo. Mas era convidativo de modo que eu me empenhei na maca onde estava para tentar alcançá-lo. E isso não foi uma ação voluntária !
-Muito prazer. Sou Gin. Você é Norah - ele disse me colocando de volta na maca, o que foi estranho - Essa é Karya. Você está na Ilhad. Bem-vinda! Suponho que esteja cansada. Se quiser, pode permanecer em repouso aqui, ou em algum lugar mais confortável, como seu cômodo.
Eu o encarei enquanto falava, torcendo cada músculo meu para permanecer parada. Olhei para a criança de cabelos ruivos  e sorri. Fui em sua direção, e então entendi o que eu pretendia, avançando daquela forma. Sangue. Fui impedida imediatamente por Gin, que me segurou firmemente.
-Não, Norah. Sem sangue pra você. Não somos esse tipo de seres. Você viu um desse tipo, não é? Margot? Fiquei sabendo que a encontrou. Esse liquido vai suprir sua necessidade por enquanto.
Senti uma picada em meu braço e ao poucos, me estabilizei.
A calma me tomou e eu adormeci novamente. Antes de fechar os olhos, olhei para minha perna. Ou, devo dizer: minha cauda?



Ps: MIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIL PERDÕES POR TER DEMORADO UM MÊS PARA POSTAR! A escola está muito puxada =/ Prometo ser mais pontual !
B.B